quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Guerra dos Mundos (The War of the Worlds).

Postado por Hellen às 17:18
Se você como eu assistiu o filme do Spielberg, que leva o mesmo nome só que sem o artigo, antes de ler o livro já lhe digo que pode tirando aquela imagem dos Estados Unidos explodindo enquanto Dakota Fanning e Tom Cruise correm desesperadamente por suas vidas. O livro se passa na Inglaterra, com um homem casado sem filhos, então nada de carros e pontes pelos ares, nada da pequena Rachel em pânico. O que Spielberg aproveitou mesmo do livro foram as descrições dos alienígenas e a ideia central da humanidade sendo eliminada sem dó nem piedade, como se fossemos meras formigas. Mas todo mundo sabe que o que o pai do E.T gosta mais do que alienígenas são crianças interagindo com alienígenas então vamos criar uma filha para o protagonista e ver o público sofrer com pena dessa pobre criança o filme todo.
Poor little Rachel

O livro de H.G. Wells é todo narrado em primeira pessoa pelo protagonista e é daquelas histórias em que o narrador gosta de interagir com leitor. Ele é bem descritivo e com poucos diálogos, o que pode tornar a leitura um pouco cansativa, mas não menos interessante. Tudo começa com uma reflexão da destruição que os marcianos causaram a Terra e que nós não somos nem um pouco diferente com aqueles que consideramos "inferiores", e isso aparece em todas as histórias de colonizações.
Os tasmanianos, apesar de sua configuração humana, foram totalmente varridos da existência, num período de cinqüenta anos, numa guerra de extermínio empreendida pelos imigrantes europeus. Somos por acaso tamanhos apóstolos de misericórdia para podermos nos queixar de que os marcianos tenham feito a guerra no mesmo espírito?
 A partir do segundo capítulo é que temos a chegada do primeiro cilindro que nos levará aos dias de tormenta do início da exterminação humana. Como o cilindro caiu no interior da Inglaterra, de início o resto do mundo ignorava totalmente a ideia de que marcianos possam ter invadido a Terra. Só quando eles começam a  atingir outras regiões e se dirigir ao centro de Londres é que o mundo toma consciência do que realmente está ocorrendo. Durante a fuga do nosso protagonista junto a sua esposa os dois tem que se separar e acabamos tendo outros companheiros durante o livro, sendo os principais o vigário e o artilheiro. Os dois em momentos totalmente diferentes e que reagem a tudo de uma forma mais contraditória ainda. O vigário que acaba sendo nosso companheiro na maior parte do tempo, age como uma criança que precisa ser orientada, alimentada, guiada o tempo inteiro. Aquele tipo de pessoa que é intrinsecamente mimada e só quer suprir as próprias vontades, tamanho o desespero e ansiedade. Ele representa muita gente que parece "equilibrada" mas quando posta em situações limites esquece de tudo em que crê, perde todas as esperanças e se carrega para a própria a destruição.
Por alguns capítulos nós deixamos de acompanhar a luta do nosso narrador e vamos para  a de seu irmão que vive em Londres e mostra como tudo vai por lá, enquanto os marcianos ainda não chegaram mas a presença na Inglaterra já foi confirmada. E é lá capital inglesa que fica mais evidente o pânico que se abatia sobre as pessoas e como elas esqueciam completamente do próximo só pensando em salvar a sua própria vida. O medo as dominava e com isso elas faziam coisas terríveis, sem se importar a quem estavam ferindo conquanto que elas saíssem vivas."Mas por mais variada que fosse sua composição, aquela multidão toda tinha certas coisas em comum. Havia medo e dor em seus rostos, e havia medo perseguindo-os". Ele chega até mesmo a se espantar ao ver um homem caído sendo ajudado por amigos, dizendo que aquele tinha sorte de ainda ter amigos.
Não esqueci do artilheiro, só deixei ele por último por ser ele o autor dos diálogos mais profundos que o narrador tem. Apesar de ser somente um soldado sem grande formação, o artilheiro tem uma grande visão de tudo o que está acontecendo. Começa a elaborar um plano de sobrevivência para ele e aqueles que sobreviverem e quiserem se juntar, mas não para gente fraca que se desespera e entrega tudo. E avalia as possibilidades de rumo dos que sobraram, como o de existir gente que é tão conformista com qualquer situação conquanto que esteja boa para si que se os marcianos quiserem criar alguns humanos como seus animais de estimação e lhes dizer que cacem os outros eles farão de bom grado, já que isso os garante a sobrevivência.
O livro todo apesar de ter como pano de fundo uma invasão extra terrestre é muito mais uma avaliação da sociedade em que sempre vivemos, que sempre destruiu o mais fraco sem qualquer compaixão se preciso fosse para benefício próprio.
Seguramente, se nada mais aprendemos com esta guerra, ao menos ela nos ensinou a piedade - piedade por essas almas desprovidas que sofrem nossa dominação.

P.s: Na década de 40 Orson Welles realizou uma dramatização radiofônica do livro, fazendo uma leitura como se fosse um boletim no noticiário. Alguns ouvintes acreditaram que realmente estava ocorrendo uma invasão alienígena nos Estados Unidos levando a população ao pânico, o que levou um processo judicial a Welles. Quem quiser ouvir é só clicar aqui =).

Nota:   

1 comentários:

K on 6 de maio de 2012 às 20:35 disse...

Que resenha linda! Caraca! Réli, você tá escrevendo muito bem. Fiquei doida pra ler o livro - sou dumb e não ligava o filme ao livro HAHAHA.
Mas sério, wow, que resenha boa. Eu sei que vc tem o mimimi de "ng le meu blog", mas continua postando!

 

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